terça-feira, 3 de agosto de 2010

DIONE

A história de Dione com a Flor Amarela começa em 1999 quando ela perde a visão um ano antes. Até os 22 anos de idade era uma jovem como outra qualquer, ativa, animada, tinha namorado, freqüentava a danceteria, porém, por conta de uma neurite no nervo ótico, Dione perdeu a visão e se trancou em casa, cortou os cabelos, terminou o namoro, “morreu para o mundo”.
Após assistir ao programa Fantástico e ver a escola Flor Amarela que estava ali tão perto, decidiu nos procurar. Nunca tínhamos trabalhado com cegos, mas se a proposta do trabalho era não discriminar nem por tipo de deficiência, nem por idade cronológica, devíamos aceitar também este desafio. Assim começamos. Sensibilizamos uma professora que acompanhou Dione ao Instituto Benjamim Constant no Rio de Janeiro para que, enquanto ela aprendesse o Braille, a professora se especializasse em deficientes visuais. Na época Dione não aceitava a sua deficiência, ainda tinha esperanças de voltar a enxergar e se recusou a permanecer no Instituto. A professora Silvana continuou e voltou, quatro meses depois, apta para trabalhar com Dione ou qualquer deficiente visual que nos procurasse.
E, 1992, quando eu pleiteava uma bolsa na Ashoka Empreendedores Sociais ( www.ashoka.org.br), Marta Gil, fellow da Ashoka, nos visitou e contou a história de uma mulher russa que, na década de 60 conseguiu desenvolver uma sensibilidade tátil com as mãos e “enxergava” as cores. A história não saia de minha cabeça e envolvi a professora para tentarmos fazer o mesmo com Dione. Então entrei em contato com Marta que, apesar de já haver passado muito tempo, se lembrou de nós, da história e mandou um texto, antigo, porém agora sabíamos que havia um amparo teórico. Mais seguras continuamos investindo e acreditando que Dione conseguiria. Com tempo e persistência conseguimos que Dione também desenvolvesse esta sensibilidade. Quanto orgulho!
Ninguém acreditava.
Nem no Instituto Benjamim Constant conheciam tal história, mas nós sabíamos que era verdade. Na Oficina de tecelagem, Dione escolhe as cores que irá trabalhar no tear.
Lógico que existem fatores externos que podem interferir, tais como nervosismo, suor nas mãos, dentre outros, mas em situações tranqüilas, segura, ela consegue.
Um dia, em São João del Rei, em uma mostra de artistas com deficiência, levamos Dione e outros de nossos artistas. A apresentação seria de Marcos Frota, o ator global que é reconhecido como porta-voz das pessoas com deficiência. Quando ele chegou apresentei Dione e contei de sua habilidade. Nunca esperava a reação dele.
Começou a debochar dizendo que iria levá-la para o seu circo (que deve ser de horrores) como a ceguinha que vê as cores. E mais (!), perguntava: “qual a cor da cueca daquele menino ali?”.
Que Deus tenha piedade dele!
Dione hoje é capaz, participa ativamente da Oficina de Tecelagem, é alegre, deixou os cabelos crescerem, voltou a freqüentar a danceteria, namora, só ainda não teve coragem de encarar um emprego, mas estamos trabalhando para que ela se sinta segura. Tivemos que trabalhar também sua família, para que deixasse de vê-la como coitadinha e passassem a respeitá-la como pessoa capaz, EFICIENTE.

2 comentários:

  1. Muito bom! Mérito seu, dela e toda sua equipe. E que Deus tire os "talentos" daqueles que pensam que contribuem para um mundo melhor. Bjs.

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  2. Eu me emociono toda vez que encontro Dione. Ela tem uma luz tão forte!!! É o caso de quem soube transformar o limão em uma limonada. Tece seus tapetes e vai abrindo aquele sorriso qd escuta nossa voz. Quero fazer mais por ela. Quem sabe será uma excelente massoterapeuta? Tb com aquelas mãos de anjo? Bjs

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