sábado, 28 de janeiro de 2012

FLOR AMARELA 21 ANOS


Em dezembro de 1990 saí do Rio de Janeiro e fui me aventurar no interior de Minas Gerais, mais especificamente em São Vicente de Minas, terra natal de meu pai.
Formada em Educação Especial pela PUC-RJ, resolvi que deveria investir meus conhecimentos em um local onde fosse inexistente o atendimento às pessoas com deficiências.
O Prefeito, à época, decide me ajudar a realizar meu sonho e, em 1991, nos empresta o prédio que havia sido construído para a Creche Municipal e que não tinha verbas para funcionar, devido à extinção da LBA. Assim, começamos a dar forma à idéia.
Bebeto, aluno com deficiência intelectual, sugere que o nome da escola seja Globo Azul, porque a Terra é azul e nela tem lugar para todo mundo – sugestivo, não?! Começamos então o trabalho de campo: fomos de casa em casa, com a cara e a coragem, conversar com as famílias que tinham pessoas com algum tipo de deficiência.
No início, eram apenas 11 alunos, mas no ano seguinte o número dobra para 22, e então, precisando de mais espaço, invadimos o prédio da antiga Escola Estadual José Bonifácio, que estava abandonado havia 16 anos.
A precária situação em que trabalhávamos sensibiliza o então deputado Vittorio Medioli, que consegue, junto à família de seu irmão, a quantia de 50 mil dólares (!) para reforma do prédio. Para homenagear a filha de Francesco Medioli, Madalena, adotamos o nome Flor Amarela.
Em 1993, fundamos a APAE DE SÃO VICENTE DE MINAS e esta parceria fortaleceu o trabalho da escola, ampliando o atendimento para as áreas de saúde e assistência social.
A política local não me via (ou não me vê) com bons olhos. Pelo fato de ser uma batalhadora em busca de um ideal, nada veio fácil pra mim. Sou brigona e decidida em realizar projetos e idéias que vão contra uma grande maioria. Mas sei que tudo que eu faço é buscando um conforto e uma qualidade de vida decente, para quem nasceu sem privilégios.

Não busco agradecimentos, estátuas, nem quero nada em troca de tudo que tento fazer. Apenas sei que nasci pra ajudar e tentar, acima de tudo, encontrar sorrisos em quem talvez nunca tivesse motivo pra isso.
Às vezes sinto que nado contra uma grande maré, mas sei que existe um Deus que me dá todos os dias muita força pra continuar lutando pelo meu ideal que, garanto, não é nada medíocre.
Bem, lá se foram 21 anos.
Neste período passamos por momentos muito bons, de muita alegria, mas também por perdas e decepções. É assim a vida. Só sabemos que deu certo se tivermos a coragem de ousar tentar fazer com que o sonho vire realidade.
Hoje estamos nos reestruturando, esperando que 2012 venha a ser mais um ano de muitas realizações e conquistas.
E que venham muitos anos mais.

Valeu Fernanda e Sergio pelos pitacos no texto!

sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

Abstinência


Branco, um dos moradores da Casa Lar, está internado. Hoje quando fomos vê-lo pela manhã achei que ele não iria sobreviver até o fim do dia.
Branco é alcoólatra, no último.
Tenho visto tantos amigos lutando contra algum tipo de vício. Tantas famílias sendo destruídas...
Aí me deparo com a minha abstinência.
Fiquei alguns dias sem livros novos. Queria ler algo e não conseguia me interessar. Semana passada entrei em uma livraria virtual e comprei quatro livros de uma vez - para aproveitar o frete gratis...
Aguardo alguns dias com ansiedade.
Dois, três, quatro... pô, mas nessa livraria a entrega é tão rápida. Vai me dando uma ansiedade. Entro no site, digito o número do pedido, não aparece, entro em pânico, converso com o atendente. Ele diz que o prazo é até 03 de fevereiro - como assim? Comprei no dia 20 de janeiro! Tenho vontade de xingar, espernear...
Chego em casa para almoçar, é dia 25 de janeiro, lá está a caixinha.
Abro-a com a ansiedade de um viciado. Meu livros, finalmente, por qual começo???
Não tenho desejo de mais nada, apenas de me dedicar ao meu vício.
É, Branco, agora senti um pouco sua fissura e agradeço por não ter outros vícios.

Alexandre Garcia visitou meu blog.


Juro! O Alexandre Garcia jornalista da TV Globo me mandou um e-mail que transcrevo na íntegra:

Flor Amarela, Hiena:
Li no seu blog a referência ao calendário maia. Veja aí meu artigo que sai em 30 jornais:
O MUNDO VAI ACABAR
Alexandre Garcia
Como todos os profetas religiosos que anunciaram o fim dos tempos falharam, o mundo agora parece julgar mais digno de crédito o calendário Maia, que supostamente termina no que seria 21 de dezembro de 2012, pela contagem romana que adotamos. Já andei algumas vezes pela península de Iucatã, o território maia. A grande pirâmide de Chitchen-itzá já desci correndo e com uma imensa bolsa do tempo em que levávamos duas câmeras fotográficas e algumas teleobjetivas. Hoje é proibido subir, porque muita gente já morreu, rolando lá de cima. Já rondei muito a colunata dos mil guerrreiros em que os maias faziam cálculos e no caracol, o observatório astronômico. Sem dúvida eles foram avançados na astronomia. Mas nada encontrei que indicasse que tivessem o dom sobrenatural de prever o futuro e muito menos o fim do mundo.
O mundo vai acabar, sim, quando a nossa estrela-guia, o sol, se apagar. Quando acabar o combustível que queima no sol. Aí, os profetas do aquecimento global vão finalmente ser desmascarados, porque vamos desaparecer congelados. Aliás, por falar nesses profetas que odeiam o carbono, não custa lembrar que só há vida, nas árvores ou nos animais, se houver carbono. Tudo que é orgânico tem carbono. Mas vai demorar para que o sol se consuma. Ele já queima há 5 bilhões de anos e os cientistas acreditam que ele tenha combustível para mais 5 bilhões de anos.
Tem gente que acredita na influência dos astros. Pois o autor do horóscopo diário do Correio Braziliense, Oscar Quiroga, no último dia do ano, foi além da astrologia e escreveu com extremo realismo. Vale a pena ler: “É propício celebrar o fim de 2011, pois nunca antes na história deste mundo houve tanta insanidade manifesta. É propício celebrar também o advento de 2012, pois mesmo que o mundo não acabe, como anunciado, pensar no fim torna as atitudes mais verdadeiras. É como pensar na própria morte, se soubéssemos lidar com ela de forma mais sábia, certamente aproveitaríamos nosso tempo com mais intensidade.”
E aí vem esta constatação: “Há, no entanto, motivo de sobra para agir com cautela neste réveillon. Nossa humanidade não anda bem da cabeça nem tampouco consegue ter contato com o coração, o que traz como resultado manifestações despudoradas de brutalidade egoísta.
É assim que o que poderia ser mera congregação de humanos se transforma facilmente em hordas de vândalos à solta.” De alguma forma, embarcamos numa onda de incivilidade e estamos nos brutalizando, nos alienando, destruindo nosso mundo, que é aquele que tem por fronteiras a nossa pele.

Adorei o texto e confesso que me senti poderosa, importante, afinal sou fã do cara. Acho-o superinteligente, assisto o Bom Dia Brasil e adoro seus comentários. Mas como ele chegou até meu blog? Vocês devem estar se perguntando...
Um internauta de nome Claudio Cariboni me enviou um email dizendo que "alertado pelo amigo Alexandre Garcia da Rede Globo a quem também se atribuem muitas coisas que ele não fez ou fatos não acontecidos, tenho o dever de dizer que as definições do poema Deficiências, atribuídas ao saudoso Mario Quintana não são dele ...Aquelas lindas definições são de Renata Vilela, professora carioca que vive no interior de Minas Gerais. Cada um de vocês poderá conhecê-la melhor..." e copiou para "o cara".
Eu respondi agradecendo ao Claudio por estar me ajudando a divulgar que o poema é de minha autoria e, muito atrevida, escrevi também para o Alexandre.
Desde então trocamos alguns e-mails, até que ele visitou meu blog e fiquei envaidecida. Tá certo que conheço de perto alguns famosos e globais, inclusive meu irmão é um (hehehe), mas o fato de trocar e mails com um jornalista tão respeitado me fez acreditar que posso continuar escrevendo, sem medo.

sexta-feira, 13 de janeiro de 2012

D Isa fez 70 anos


Minha mãe completou 70 anos no último 07 de janeiro.
Em nossa família nós, mulheres, não temos o menor problema em divulgar a idade.
Minha mãe chegou aos 70 linda como sempre foi.
No dia 06/01/2012 ela foi internada com desidratação. Estava há dias sem comer, vomitando e, bem deixa pra lá...
Na véspera da festa, eu a levei ao hospital e ela teve que ser internada para tomar soro. Deixei meu irmão de companhia e fui buscar minha filha em São João del Rei. Estava lá quando Fabio, o meu irmão, decidiu que deveríamos desmarcar a festa. Marcelo, meu cunhado que estava organizando a festa, me ligou desesperado. Pedi que se acalmasse, que quando eu chegasse decidiríamos o que fazer.
Voltamos, eu e Luísa, e fomos direto para o hospital conversar com ela sobre os amigos que já estavam chegando de longe.
Joel, sábio enfermeiro de São Vicente de Minas, disse que minha mãe é alérgica a adrenalina, que toda vez que está envolvida em algum evento se estressa e o resultado é o mesmo. Na festa dos seus 70 anos, não podia ser diferente.
Às oito horas do dia 07/01/2012 ela recebia alta e eu a levei para experimentar a roupa da festa e para mostrar onde era o salão de beleza, onde ela deveria comparecer ao meio-dia.
Sei que pode parecer crueldade.
Mamãe ainda estava fraca, precisava descansar, mas eu não dei trégua. Entreguei-a para minha irmã Fernanda e minha tia Lucinha e rumei para fazenda a fim de ajudar a organizar os últimos preparativos num um dia de extrema importância para todos nós, onde pudemos vislumbrar o que é chegar aos 70 cercada de tanto carinho, numa época em que vemos tantas mães e pais abandonados.
Foi muito bom olhar para o rosto daquela mãe, meio abatido por causa da breve hospitalização, e notar que ali existe uma linda mulher. Para nós, suas filhas, nunca foi fácil sair com minha mãe e perceber que, na maioria das vezes, os olhares masculinos eram direcionados a ela e não a nós, bem mais jovens.
Mas, como concorrer com esta mulher de belo porte e de um rosto inigualável?
Cuidava de nós como "galinha de pintos" e brincava conosco, quando crianças, como se tivesse a nossa idade. Até hoje meu prato predileto é arroz, feijão, purê e carne moída, um dos pratos que facilitava a sua vida para mandar os quatro filhos para escola. Fazia uma bacia de comida e com os quatro já vestidos e penteados, ia colocando uma colherada na boca de cada um.
Óbvio que tínhamos ciumes dessa mãe linda. Eu me achava feia porque quem se parecia com ela era Fernanda.
Mamãe cuidava de pessoas desconhecidas com o mesmo amor que cuidava de seus filhos. Ensinou aos filhos e amigos o verdadeiro significado da palavra caridade. Minha mãe é dessas pessoas que nasceu com a incumbência de mudar o destino das pessoas. Adotou e foi adotada.
Doou um rim para meu pai a fim de prolongar sua vida e engordou de montão, para evitar seus ciúmes, o que de nada adiantou. Papai era completamente louco por ela.
Enfim, tê-la como mãe, trouxe a nós, seus filhos, a melhor e maior experiência de nossa existência.