Acabo de chegar de Santa Catarina, onde fui participar da Saga Acolher, projeto da Natura. Entre milhares de empreendedores sociais desse Brasilzão fui uma das quatro escolhidas. Confesso que estou me sentindo "no céu".
Fui conhecer o "Acolhida na Colônia", um projeto muito legal da Taíse, outra empreendedora selecionada. Ela conseguiu desenvolver o turismo rural numa região antes inóspita e onde a evasão da população rural era grande. Hoje os filhos dos agricultures, que foram para cidade, estão retornando. Fiquei empolgadíssima para trazer o projeto para nossa região.
Muito bom ver que as pessoas estão gostando da vida simples e que cada vez mais pessoas se preocupam com o bem estar dos outros.
Taíse foi conhecer o "Saúde e Alegria" em Santarém e eu voltei morrendo de inveja dela. Queria continuar na saga, apesar do cansaço. Por fim alguém do projeto "Casa da Criança" de Fortaleza virá para São Vicente de Minas conhecer a Flor Amarela.
Hoje penso que não foi fácil chegar até aqui.
No início de nosso trabalho, houve muita resistência da comunidade local. Afinal os deficientes viviam escondidos em suas casas e a comunidade os desconhecia. Com paciência e persistência fomos conquistando famílias e apoio. A princípio, da Câmara Municipal e da Prefeitura, que nos cederam espaços para cursos e atendimentos. Decidimos também apresentar à comunidade, aquelas pessoas que viviam escondidas em suas casas, algumas sequer conheciam sua imagem, levando-as para Praça, para igreja, chocando a sociedade da época.
Hoje, domingo, dia 22 de agosto de 2010, promovemos um "abraço na praça", ato simbólico de apoio das pessoas da cidade, uma das atividades da Semana Nacional da Pessoa com Deficiência Intelectual e Múltipla. A praça estava lotada, a banda tocava, foi uma glória.
É ou não é para eu "me sentir"?
domingo, 22 de agosto de 2010
sexta-feira, 13 de agosto de 2010
Questionamentos sobre EDUCAÇÃO
Lixo nas ruas, falta de respeito com seus semelhantes, banalização da vida, agressividade gratuita, corrupção, derrubada de florestas, pedofilia, trânsito caótico, alcoolismo, tráfico, desemprego, tudo é questão de educação.
Então por que em nosso país a Educação é tão desvalorizada?
Por que professores ganham até menos que um salário mínimo?
Por que aqueles que ajudam as pessoas a se tornarem médicos, dentistas, jornalistas, empresários... são tão pouco valorizadas?
Como diz Içami Tiba:
“Não existe alguém, que nunca teve um professor na vida,
Assim como não há ninguém que nunca tenha tido um aluno.
Se existem analfabetos, provavelmente não é por vontade dos professores.
Se existem letrados, é porque um dia tiveram professores.
Se existem prêmios Nobel, é porque alunos superaram seus professores.
Se existem grandes sábios, é porque transcenderam suas funções de professores.
Quanto mais se aprende, mais se quer ensinar.
Quanto mais se ensina, mais se quer aprender.”
Quero ver o professor ser valorizado neste país. Quero ver o jovem desejando ser professor. Desejo que nunca mais ninguém tenha vergonha do salário de professor....
Então por que em nosso país a Educação é tão desvalorizada?
Por que professores ganham até menos que um salário mínimo?
Por que aqueles que ajudam as pessoas a se tornarem médicos, dentistas, jornalistas, empresários... são tão pouco valorizadas?
Como diz Içami Tiba:
“Não existe alguém, que nunca teve um professor na vida,
Assim como não há ninguém que nunca tenha tido um aluno.
Se existem analfabetos, provavelmente não é por vontade dos professores.
Se existem letrados, é porque um dia tiveram professores.
Se existem prêmios Nobel, é porque alunos superaram seus professores.
Se existem grandes sábios, é porque transcenderam suas funções de professores.
Quanto mais se aprende, mais se quer ensinar.
Quanto mais se ensina, mais se quer aprender.”
Quero ver o professor ser valorizado neste país. Quero ver o jovem desejando ser professor. Desejo que nunca mais ninguém tenha vergonha do salário de professor....
quarta-feira, 11 de agosto de 2010
HOMENS, ETERNOS MENINOS
Vocês já perceberam como os homens são sempre meninos?
Observe um grupo de homens jogando bola, ou melhor, observe os homens em grupo...
Transformam-se, viram meninos.
Isso me atrai.
Sempre achei interessante trabalhar com a Educação Especial por este poder que a pessoa com deficiência tem de permanecer criança.
Os homens também são assim. E os que não conseguem, ficam tristes, emburrados.
Adoro homens com cara de menino.
sábado, 7 de agosto de 2010
Flor que brotou em nosso jardim
Ainda que o acreditássemos estéril
Bateu forte em nosso peito
Impossibilitando-nos de lhe dizer não
Aprendeu a ser uma de nós, como se gerada no mesmo ventre
Nascida não foi da mesma barriga
Aliás você não saiu de nós, sim entrou em nossas vidas
Além das nossas expectativas, você foi se desenvolvendo
Reunindo nossa família que naturalmente se dispersava
Aliando-se a nós, provocou-nos uma mudança
Nos despertando o mais puro dos sentimentos
Tratando de nos fazer crianças novamente
Escolhida, não foste a toa, entre dezenas
Sincero é, portanto, o amor que lhe entregamos
Você nos trouxe a paz
Iluminando nosso caminho
Luz que é para nossas vidas
Levando-nos a crer em dias melhores
Esperança trouxe a nossos corações
Linda criança,
Amor!
Escrito em 1982, quando Fabiana entrou em nossas vidas
terça-feira, 3 de agosto de 2010
DIONE
A história de Dione com a Flor Amarela começa em 1999 quando ela perde a visão um ano antes. Até os 22 anos de idade era uma jovem como outra qualquer, ativa, animada, tinha namorado, freqüentava a danceteria, porém, por conta de uma neurite no nervo ótico, Dione perdeu a visão e se trancou em casa, cortou os cabelos, terminou o namoro, “morreu para o mundo”.
Após assistir ao programa Fantástico e ver a escola Flor Amarela que estava ali tão perto, decidiu nos procurar. Nunca tínhamos trabalhado com cegos, mas se a proposta do trabalho era não discriminar nem por tipo de deficiência, nem por idade cronológica, devíamos aceitar também este desafio. Assim começamos. Sensibilizamos uma professora que acompanhou Dione ao Instituto Benjamim Constant no Rio de Janeiro para que, enquanto ela aprendesse o Braille, a professora se especializasse em deficientes visuais. Na época Dione não aceitava a sua deficiência, ainda tinha esperanças de voltar a enxergar e se recusou a permanecer no Instituto. A professora Silvana continuou e voltou, quatro meses depois, apta para trabalhar com Dione ou qualquer deficiente visual que nos procurasse.
E, 1992, quando eu pleiteava uma bolsa na Ashoka Empreendedores Sociais ( www.ashoka.org.br), Marta Gil, fellow da Ashoka, nos visitou e contou a história de uma mulher russa que, na década de 60 conseguiu desenvolver uma sensibilidade tátil com as mãos e “enxergava” as cores. A história não saia de minha cabeça e envolvi a professora para tentarmos fazer o mesmo com Dione. Então entrei em contato com Marta que, apesar de já haver passado muito tempo, se lembrou de nós, da história e mandou um texto, antigo, porém agora sabíamos que havia um amparo teórico. Mais seguras continuamos investindo e acreditando que Dione conseguiria. Com tempo e persistência conseguimos que Dione também desenvolvesse esta sensibilidade. Quanto orgulho!
Ninguém acreditava.
Nem no Instituto Benjamim Constant conheciam tal história, mas nós sabíamos que era verdade. Na Oficina de tecelagem, Dione escolhe as cores que irá trabalhar no tear.
Lógico que existem fatores externos que podem interferir, tais como nervosismo, suor nas mãos, dentre outros, mas em situações tranqüilas, segura, ela consegue.
Um dia, em São João del Rei, em uma mostra de artistas com deficiência, levamos Dione e outros de nossos artistas. A apresentação seria de Marcos Frota, o ator global que é reconhecido como porta-voz das pessoas com deficiência. Quando ele chegou apresentei Dione e contei de sua habilidade. Nunca esperava a reação dele.
Começou a debochar dizendo que iria levá-la para o seu circo (que deve ser de horrores) como a ceguinha que vê as cores. E mais (!), perguntava: “qual a cor da cueca daquele menino ali?”.
Que Deus tenha piedade dele!
Dione hoje é capaz, participa ativamente da Oficina de Tecelagem, é alegre, deixou os cabelos crescerem, voltou a freqüentar a danceteria, namora, só ainda não teve coragem de encarar um emprego, mas estamos trabalhando para que ela se sinta segura. Tivemos que trabalhar também sua família, para que deixasse de vê-la como coitadinha e passassem a respeitá-la como pessoa capaz, EFICIENTE.
Após assistir ao programa Fantástico e ver a escola Flor Amarela que estava ali tão perto, decidiu nos procurar. Nunca tínhamos trabalhado com cegos, mas se a proposta do trabalho era não discriminar nem por tipo de deficiência, nem por idade cronológica, devíamos aceitar também este desafio. Assim começamos. Sensibilizamos uma professora que acompanhou Dione ao Instituto Benjamim Constant no Rio de Janeiro para que, enquanto ela aprendesse o Braille, a professora se especializasse em deficientes visuais. Na época Dione não aceitava a sua deficiência, ainda tinha esperanças de voltar a enxergar e se recusou a permanecer no Instituto. A professora Silvana continuou e voltou, quatro meses depois, apta para trabalhar com Dione ou qualquer deficiente visual que nos procurasse.
E, 1992, quando eu pleiteava uma bolsa na Ashoka Empreendedores Sociais ( www.ashoka.org.br), Marta Gil, fellow da Ashoka, nos visitou e contou a história de uma mulher russa que, na década de 60 conseguiu desenvolver uma sensibilidade tátil com as mãos e “enxergava” as cores. A história não saia de minha cabeça e envolvi a professora para tentarmos fazer o mesmo com Dione. Então entrei em contato com Marta que, apesar de já haver passado muito tempo, se lembrou de nós, da história e mandou um texto, antigo, porém agora sabíamos que havia um amparo teórico. Mais seguras continuamos investindo e acreditando que Dione conseguiria. Com tempo e persistência conseguimos que Dione também desenvolvesse esta sensibilidade. Quanto orgulho!
Ninguém acreditava.
Nem no Instituto Benjamim Constant conheciam tal história, mas nós sabíamos que era verdade. Na Oficina de tecelagem, Dione escolhe as cores que irá trabalhar no tear.
Lógico que existem fatores externos que podem interferir, tais como nervosismo, suor nas mãos, dentre outros, mas em situações tranqüilas, segura, ela consegue.
Um dia, em São João del Rei, em uma mostra de artistas com deficiência, levamos Dione e outros de nossos artistas. A apresentação seria de Marcos Frota, o ator global que é reconhecido como porta-voz das pessoas com deficiência. Quando ele chegou apresentei Dione e contei de sua habilidade. Nunca esperava a reação dele.
Começou a debochar dizendo que iria levá-la para o seu circo (que deve ser de horrores) como a ceguinha que vê as cores. E mais (!), perguntava: “qual a cor da cueca daquele menino ali?”.
Que Deus tenha piedade dele!
Dione hoje é capaz, participa ativamente da Oficina de Tecelagem, é alegre, deixou os cabelos crescerem, voltou a freqüentar a danceteria, namora, só ainda não teve coragem de encarar um emprego, mas estamos trabalhando para que ela se sinta segura. Tivemos que trabalhar também sua família, para que deixasse de vê-la como coitadinha e passassem a respeitá-la como pessoa capaz, EFICIENTE.
segunda-feira, 2 de agosto de 2010
CHICO BOMBA
Francisco, Chico, Bomba, crítico feroz de tudo que faço e que me faz refletir sobre minhas atitudes, me ajudando a evoluir sempre.
Meu companheiro nesta encarnação, está completando 46 anos de vida, sendo 15 destes ao meu lado.
Que privilégio nós temos de envelhecer juntos, de crescermos juntos, amadurecemos e nos tornarmos pais dos meus (Luísa e Luís Guilherme), do seu (Gledson/Chiquinho) e do nosso(Kauã).
Quando me preparava para ser avó, Chico me convence a ser mãe novamente.
Ele sempre me convence!
Vamos lá, meu amor, vamos continuar encarando tudo que a vida nos manda: nossos filhos, nossos gatos e cachorros...
Sinto muito orgulho de ter descoberto o que parecia uma pedra bruta, mas que se transforma a cada dia num diamante de imenso valor.
Meu companheiro nesta encarnação, está completando 46 anos de vida, sendo 15 destes ao meu lado.
Que privilégio nós temos de envelhecer juntos, de crescermos juntos, amadurecemos e nos tornarmos pais dos meus (Luísa e Luís Guilherme), do seu (Gledson/Chiquinho) e do nosso(Kauã).
Quando me preparava para ser avó, Chico me convence a ser mãe novamente.
Ele sempre me convence!
Vamos lá, meu amor, vamos continuar encarando tudo que a vida nos manda: nossos filhos, nossos gatos e cachorros...
Sinto muito orgulho de ter descoberto o que parecia uma pedra bruta, mas que se transforma a cada dia num diamante de imenso valor.
MEU PAI
Somos cinco filhos, eu a mais velha, Fernanda, Rogério, Fabio e a caçulinha, Fabiana. Nossos pais nos criaram dentro de uma disciplina relativamente rígida, porém com muito amor. Não sei como meu pai conseguiu investir tanto em nós. Estudamos em escolas e faculdades particulares, moramos sempre em boas casas, nos vestíamos bem, papai tinha carro e casa própria.
Excelente professor da Língua Portuguesa criava músicas para nos ensinar, devemos muito a ele.
Era muito inteligente, mas tinha um gênio terrível.
Completamente apaixonado por minha mãe, fazia todas as vontades dela, mas tinha um ciúme doentio.
Aposentou-se muito cedo, com apenas 56 anos e adorava não fazer nada. Como papai dizia, ser bancário é uma escolha, não profissão. Ele detestava trabalhar no banco e a aposentadoria parecia ser o prêmio por tantos anos de infelicidade profissional. Minha mãe costumava brincar que marido aposentado é igual a edredom no verão, ocupa um espaço danado e não se tem onde guardar.
Aos poucos foi se sentindo inútil, sem ter o que fazer e o que é pior, sem vontade de fazer nada. Não se sentia feliz e as doenças começaram a aparecer. Primeiro os rins deixaram de funcionar, teve que fazer hemodiálise por quatro anos e seu corpo físico começou a decair. Foi então tomada uma decisão radical, ele iria fazer o transplante e o doador compatível foi minha mãe.
Achamos que ele iria se sentir “o máximo” tendo um pedaço da amada dentro dele. Mas ocorreu justamente o contrário. Ele ficou amargo, com raiva, parecia que a vida estava sendo injusta com ele. O transplante foi em outubro, em janeiro minha mãe completou 60 anos e, pela primeira vez em tantos anos de vida conjugal, ele fez questão de não lhe dar presente e sequer os parabéns.
Ninguém entendeu, afinal, ele devia sua vida e a liberdade da máquina a ela.
Começou então o processo de decadência física e emocional. Logo apareceu um câncer no couro cabeludo, cirurgias, outros problemas familiares contribuíram para o processo, principalmente a suspeita de câncer linfático na Fabiana e a morte da Carolina, sua neta, filha da Fernanda, que tinha pouco menos de três anos e que faleceu um dia antes de completar um ano do transplante.
Papai teve um Acidente Vascular Cerebral no dia 11 de junho de 2008. Dias antes ele e mamãe haviam tido uma briga feia e falavam até em se separar. Ficou em coma profundo durante 43 dias. No dia do aniversário da Luísa, sua primeira neta, contei-lhe que ela havia passado na prova da OAB, com a nota máxima. Ele abriu um sorriso, presenciado pela neurologista e começou a voltar do coma, saiu do CTI, foi para o quarto e tivemos a oportunidade de nos aproximar dele, pois quando ele voltou do coma, tinha tanto amor no olhar que toda e qualquer mágoa se dissipou. Lógico que ele e mamãe não se separaram até ele partir para o outro plano. Mamãe cuidou dele como a esposa dedicada e amorosa e ele partiu em paz, sentindo-se amado, como sempre foi e nunca soube.
Dedico este blog ao meu pai que apoiou meu sonho, segurou a falta de grana, me ensinou a escrever e que, apesar de não estar presente entre nós, está eternizado no Centro de Reabilitação “Arcesio Francisco de Oliveira Villela” na Escola Flor Amarela.
Excelente professor da Língua Portuguesa criava músicas para nos ensinar, devemos muito a ele.
Era muito inteligente, mas tinha um gênio terrível.
Completamente apaixonado por minha mãe, fazia todas as vontades dela, mas tinha um ciúme doentio.
Aposentou-se muito cedo, com apenas 56 anos e adorava não fazer nada. Como papai dizia, ser bancário é uma escolha, não profissão. Ele detestava trabalhar no banco e a aposentadoria parecia ser o prêmio por tantos anos de infelicidade profissional. Minha mãe costumava brincar que marido aposentado é igual a edredom no verão, ocupa um espaço danado e não se tem onde guardar.
Aos poucos foi se sentindo inútil, sem ter o que fazer e o que é pior, sem vontade de fazer nada. Não se sentia feliz e as doenças começaram a aparecer. Primeiro os rins deixaram de funcionar, teve que fazer hemodiálise por quatro anos e seu corpo físico começou a decair. Foi então tomada uma decisão radical, ele iria fazer o transplante e o doador compatível foi minha mãe.
Achamos que ele iria se sentir “o máximo” tendo um pedaço da amada dentro dele. Mas ocorreu justamente o contrário. Ele ficou amargo, com raiva, parecia que a vida estava sendo injusta com ele. O transplante foi em outubro, em janeiro minha mãe completou 60 anos e, pela primeira vez em tantos anos de vida conjugal, ele fez questão de não lhe dar presente e sequer os parabéns.
Ninguém entendeu, afinal, ele devia sua vida e a liberdade da máquina a ela.
Começou então o processo de decadência física e emocional. Logo apareceu um câncer no couro cabeludo, cirurgias, outros problemas familiares contribuíram para o processo, principalmente a suspeita de câncer linfático na Fabiana e a morte da Carolina, sua neta, filha da Fernanda, que tinha pouco menos de três anos e que faleceu um dia antes de completar um ano do transplante.
Papai teve um Acidente Vascular Cerebral no dia 11 de junho de 2008. Dias antes ele e mamãe haviam tido uma briga feia e falavam até em se separar. Ficou em coma profundo durante 43 dias. No dia do aniversário da Luísa, sua primeira neta, contei-lhe que ela havia passado na prova da OAB, com a nota máxima. Ele abriu um sorriso, presenciado pela neurologista e começou a voltar do coma, saiu do CTI, foi para o quarto e tivemos a oportunidade de nos aproximar dele, pois quando ele voltou do coma, tinha tanto amor no olhar que toda e qualquer mágoa se dissipou. Lógico que ele e mamãe não se separaram até ele partir para o outro plano. Mamãe cuidou dele como a esposa dedicada e amorosa e ele partiu em paz, sentindo-se amado, como sempre foi e nunca soube.
Dedico este blog ao meu pai que apoiou meu sonho, segurou a falta de grana, me ensinou a escrever e que, apesar de não estar presente entre nós, está eternizado no Centro de Reabilitação “Arcesio Francisco de Oliveira Villela” na Escola Flor Amarela.
Por que histórias de uma hiena?
“As hienas possuem um amplo menu, alimentando-se de insetos e ovos de avestruz. Também se alimentam de suas próprias fezes. Se a fome aperta não hesitam atacar animais grandes, como girafas, rinocerontes ou búfalos, mas só preda os indivíduos jovens, velhos ou enfermos. Ao lado do abutre e o chacal, desempenha o papel de carniceira, devorando cadáveres de animais mortos ou que estejam moribundos, além de "roubar" a caça de outros predadores, tais como guepardos, leopardos e leões. Dona das mandíbulas mais potentes do continente, elas consomem até ossos. Na sociedade das Hienas, as fêmeas é que mandam. Há a matriarca, a fêmea líder, que é quem dita as regras e os deveres de cada integrante. Depois vem as fêmeas de segundo e terceiro escalão. Os machos estão na base da pirâmide, sendo totalmente submissos as fêmeas que chegam a ser 20% maiores e mais pesadas. “ (fonte wikipédia)
O apelido de hiena me foi dado por minha mãe, que me acha otimista demais! Além disso, assim como a hiena fêmea, diz que tenho personalidade forte, dominante, ou seja, sou “mandona”.
Não sei se isso é verdade, sei apenas que nasci com uma missão, difícil para a maioria das pessoas, mas nem tanto para mim.
Adoro o que faço, sentir-me útil e saber que estou construindo, fazendo parte da história, me dá imenso prazer.
É verdade que às vezes fico deprimida, choro a toa, quando fica difícil engolir uma injustiça, mas na maioria das vezes penso como os chineses: que “crise é sinônimo de oportunidade”.
O apelido de hiena me foi dado por minha mãe, que me acha otimista demais! Além disso, assim como a hiena fêmea, diz que tenho personalidade forte, dominante, ou seja, sou “mandona”.
Não sei se isso é verdade, sei apenas que nasci com uma missão, difícil para a maioria das pessoas, mas nem tanto para mim.
Adoro o que faço, sentir-me útil e saber que estou construindo, fazendo parte da história, me dá imenso prazer.
É verdade que às vezes fico deprimida, choro a toa, quando fica difícil engolir uma injustiça, mas na maioria das vezes penso como os chineses: que “crise é sinônimo de oportunidade”.
FALANDO DE MIM
Em 1990, deixei minha terra natal o Rio de Janeiro e me mudei para São Vicente de Minas, pequena cidade ao sul das Gerais. Diante do preconceito que sofri, por ser carioca e mãe solteira, no interior de Minas Gerais, e, para que a realização de meu sonho não se transformasse em pesadelo, fiz a seguinte apresentação à comunidade:
“Muitos me conhecem como "Renata do Rio", "Loira", "Filha do Arcesinho", mas poucos sabem quem sou realmente.
Na verdade não sou apenas a Renata boêmia, seresteira, alegre, animada, que se mete em todos os acontecimentos da cidade, mesmo sem ser chamada. Existe um lado meu, desconhecido da população de São Vicente de Minas, que talvez vocês devam conhecer.
Nascida aos 19 de fevereiro sou regida pelo signo de aquário, causa talvez da minha inquietação e tendência ao novo, ao correr riscos e desvendar o desconhecido.
Nunca soube conviver com o preconceito, e desde menina já sabia que uma das minhas missões na terra seria quebrar todo e qualquer tipo de discriminação. Criança ainda brincava e defendia os "fracos e oprimidos" me sentindo, quem sabe, a "super-pateta".
Fui crescendo e essa tendência a super-herói foi se desenvolvendo e tomando outros rumos.
Foi quando decidi fazer faculdade e optei pela educação especial. Minha intenção era trabalhar com crianças portadoras de deficiências.
No meio do caminho, mudei o curso do meu destino. Desfiz um noivado, me apaixonei por um artista, engravidei, tranquei a faculdade e fui ser mãe solteira.
Foi aí que pude sentir pela primeira vez o preconceito na "carne".
Aos 19 anos, sofrendo a perda de pessoas tão queridas como meu avô e minha madrinha, fui descobrir que a criança que eu carregava no ventre não deveria ser motivo de orgulho e felicidade, mas de vergonha e humilhação.
Afinal, se eu não era casada e nem queria me casar - só podia ser louca.
Foi quando passei de heroína a vítima, aquela menina que brigava contra qualquer tipo de discriminação, não podia lutar contra o preconceito imposto por uma sociedade de valores discutíveis.
Porém, alguma coisa dentro de mim ainda se remexia e incomodava. E não me deixaria quieta.
Graças aos céus, estava cercada de pessoas lindas, que me davam as mãos sempre que eu caía.
Aquela coisa remexendo, incomodando... Custou-me a perceber que era o que me fazia ser mãe. Aquela "coisinha" que me falava ao ouvido, não era minha consciência, mas minha filha.
Luísa nasceu! E com ela no colo fui reaprendendo a lutar. Voltei a trabalhar e quando ela já estava com quatro anos retomei os meus estudos.
Com Luísa aprendi a ser mãe.
Comigo aprendi a ser mulher e que ser mulher é ser forte.
Retomei minha profissão. Nesses últimos anos trabalhei com deficientes físicos, mentais, paralisados cerebrais, deficientes visuais e auditivos, com autistas e psicóticos. Trabalhei também com meninos de rua e cheguei a escrever um livro sobre eles, que futuramente pretendo publicar. Dei entrevistas em rádio e televisão, falando sobre o que é especial na educação.
Já andei por tantos caminhos e já vivi tantas coisas, que hoje vejo que o preconceito e discriminação estão em cada um de nós, e cabe a nós quebrá-los para que possamos viver numa sociedade mais justa e humana.
Hoje posso afirmar que
"Deficiente" é aquele que não consegue modificar sua vida, aceitando as imposições de outras pessoas ou da sociedade em que vive, sem ter consciência de que é dono do seu destino.
"Louco" é quem não procura ser feliz".
"Cego" é aquele que não vê seu próximo morrer de frio, de fome, de miséria.
"Surdo" é aquele que não tem tempo de ouvir um desabafo de um amigo, ou o apelo de um irmão.
"Mudo" é aquele que não consegue falar o que sente e se esconde por trás da máscara da hipocrisia.
"Paralítico" é quem não consegue andar na direção daqueles que precisam de sua ajuda.
"Diabético" é quem não consegue ser doce.
"Anão" é quem não sabe deixar o amor crescer.
E "Miserável" somos todos que não conseguimos falar com Deus.”
MARIO QUINTANA
Em 2001 recebo um folder do Senado Federal com a propaganda da Semana Nacional de Valorização da Pessoa com Deficiência. A apresentação tem o texto “DEFICIÊNCIAS de Mario Quintana”. Fico surpresa ao constatar que é o final da minha apresentação. Alguém tirou o texto do site www.floramarela.org.br e o atribuiu ao Mario Quintana.
“Muitos me conhecem como "Renata do Rio", "Loira", "Filha do Arcesinho", mas poucos sabem quem sou realmente.
Na verdade não sou apenas a Renata boêmia, seresteira, alegre, animada, que se mete em todos os acontecimentos da cidade, mesmo sem ser chamada. Existe um lado meu, desconhecido da população de São Vicente de Minas, que talvez vocês devam conhecer.
Nascida aos 19 de fevereiro sou regida pelo signo de aquário, causa talvez da minha inquietação e tendência ao novo, ao correr riscos e desvendar o desconhecido.
Nunca soube conviver com o preconceito, e desde menina já sabia que uma das minhas missões na terra seria quebrar todo e qualquer tipo de discriminação. Criança ainda brincava e defendia os "fracos e oprimidos" me sentindo, quem sabe, a "super-pateta".
Fui crescendo e essa tendência a super-herói foi se desenvolvendo e tomando outros rumos.
Foi quando decidi fazer faculdade e optei pela educação especial. Minha intenção era trabalhar com crianças portadoras de deficiências.
No meio do caminho, mudei o curso do meu destino. Desfiz um noivado, me apaixonei por um artista, engravidei, tranquei a faculdade e fui ser mãe solteira.
Foi aí que pude sentir pela primeira vez o preconceito na "carne".
Aos 19 anos, sofrendo a perda de pessoas tão queridas como meu avô e minha madrinha, fui descobrir que a criança que eu carregava no ventre não deveria ser motivo de orgulho e felicidade, mas de vergonha e humilhação.
Afinal, se eu não era casada e nem queria me casar - só podia ser louca.
Foi quando passei de heroína a vítima, aquela menina que brigava contra qualquer tipo de discriminação, não podia lutar contra o preconceito imposto por uma sociedade de valores discutíveis.
Porém, alguma coisa dentro de mim ainda se remexia e incomodava. E não me deixaria quieta.
Graças aos céus, estava cercada de pessoas lindas, que me davam as mãos sempre que eu caía.
Aquela coisa remexendo, incomodando... Custou-me a perceber que era o que me fazia ser mãe. Aquela "coisinha" que me falava ao ouvido, não era minha consciência, mas minha filha.
Luísa nasceu! E com ela no colo fui reaprendendo a lutar. Voltei a trabalhar e quando ela já estava com quatro anos retomei os meus estudos.
Com Luísa aprendi a ser mãe.
Comigo aprendi a ser mulher e que ser mulher é ser forte.
Retomei minha profissão. Nesses últimos anos trabalhei com deficientes físicos, mentais, paralisados cerebrais, deficientes visuais e auditivos, com autistas e psicóticos. Trabalhei também com meninos de rua e cheguei a escrever um livro sobre eles, que futuramente pretendo publicar. Dei entrevistas em rádio e televisão, falando sobre o que é especial na educação.
Já andei por tantos caminhos e já vivi tantas coisas, que hoje vejo que o preconceito e discriminação estão em cada um de nós, e cabe a nós quebrá-los para que possamos viver numa sociedade mais justa e humana.
Hoje posso afirmar que
"Deficiente" é aquele que não consegue modificar sua vida, aceitando as imposições de outras pessoas ou da sociedade em que vive, sem ter consciência de que é dono do seu destino.
"Louco" é quem não procura ser feliz".
"Cego" é aquele que não vê seu próximo morrer de frio, de fome, de miséria.
"Surdo" é aquele que não tem tempo de ouvir um desabafo de um amigo, ou o apelo de um irmão.
"Mudo" é aquele que não consegue falar o que sente e se esconde por trás da máscara da hipocrisia.
"Paralítico" é quem não consegue andar na direção daqueles que precisam de sua ajuda.
"Diabético" é quem não consegue ser doce.
"Anão" é quem não sabe deixar o amor crescer.
E "Miserável" somos todos que não conseguimos falar com Deus.”
MARIO QUINTANA
Em 2001 recebo um folder do Senado Federal com a propaganda da Semana Nacional de Valorização da Pessoa com Deficiência. A apresentação tem o texto “DEFICIÊNCIAS de Mario Quintana”. Fico surpresa ao constatar que é o final da minha apresentação. Alguém tirou o texto do site www.floramarela.org.br e o atribuiu ao Mario Quintana.
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