terça-feira, 18 de janeiro de 2011

Flor Amarela faz 20 anos - CAPÍTULO 1


Quando vim para esta pacata cidadezinha, mal sabia o que iria encontrar, nem sabia o que iria viver. Vim a convite do prefeito da época, o Prinha, que me deu a chance de começar. Soube muito depois de sua partida que ele me considerava uma chata, exigente. Sinto não ter podido esclarecer que eu só exigia o que seria o melhor para a cidade que ele administrava e não para mim. Passaram-se 20 anos. 
Aqui na cidade que me acolheu e onde meu sonho se tornou realidade, também "comi o pão que o diabo amassou". Explico: a política do interior de Minas é algo que nunca tinha vivenciado. No Rio de Janeiro, onde vivia, nunca tinha conhecido sequer um vereador, só havia militado pelas "DIRETAS JÁ", enfim, tinha a liberdade de escolher os candidatos, possível apenas em um regime democrático. Quando vim para cá aprendi que a realidade era outra. Teria que assumir uma posição e assim perder os amigos que eram do "outro lado". A política aqui era dividida entre PDS e PMDB, ou seja direita e esquerda. Como quem me trouxe para cá foi o Prinha, o prefeito que assumiu depois e que era de oposição, fechou as portas da prefeitura para nós, cortando até mesmo a merenda escolar. Revoltada, me tornei oposição ao governo municipal. Isso foi em 1993, quando me tornava fellow da Ashoka e toda ajuda que tinha para me manter era utilizada para manter a Flor Amarela de portas abertas. Algumas pessoas que trabalhavam comigo ficaram meses sem receber salários, "desviei" uma verba conseguida do governo estadual para compra de medicamentos, e comprei alimentos - achei que se justificasse estaria tudo certo. Quanta ingenuidade... Quem segurou minha barra foi meu pai, me ajudando a me manter aqui, mesmo contra a sua vontade, que sofria vendo sua filha "tão inteligente" passando por todo aquele sofrimento na cidade que ele nasceu.
O tempo passou, e anos depois Prinha volta ao poder, dessa vez como vice-prefeito. Eu e minha família, trabalhamos muito para que isso acontecesse. Após a eleição, peço o apoio do prefeito eleito, mas ele diz que terá que ver o que poderá fazer, que as coisas não são bem assim como eu penso... Sinto que estou sendo descartada e sofro. 
1998 a Flor Amarela está passando por um dos seus piores momentos. Já não temos mais recursos para nos manter. As dívidas se acumulam e não temos mais onde pedir socorro. Decido fechar a escola, mesmo após os funcionários terem feito uma mobilização, colocando uma faixa na frente da escola com os seguintes dizeres: "não pense que a vitória está perdida, se e de batalhas que se vive a vida". Me emociono, choro, sofro, mas tenho que ser realista - não dá mais. 
Uma amiga do Rio vem nos visitar, se encanta com nosso trabalho e quando digo que estamos para fechar as portas, solidária, me conta que é amiga do jornalista Pedro Bial, na época apresentador do Fantástico, e que irá conseguir uma matéria no programa. Confesso que duvido um pouco, mas em janeiro recebo um telefonema do próprio Pedro dizendo que temos uma amiga em comum e que ele próprio virá fazer a matéria. Quase caio dura para trás. Estamos no mês de janeiro e teremos que simular um dia comum de trabalho. Coloco anúncio na rádio, pedindo para os alunos comparecerem à escola, convoco os funcionários e procuro o prefeito para pedir um funcionário para capinar nossa horta. Aproveito a oportunidade para convidá-lo a conversar com o jornalista e explicar o porquê da escola ter chegado na situação que chegou. Ele despreza o convite. Acho que duvidou de mim e me acha chata.
Convido minha amiga Pollyana, jornalista e na época chefe de gabinete para me ajudar a receber a equipe global. Ela presencia toda conversa e vê que, em momento algum, falo mal da administração municipal. Coloco a real situação: não temos como manter o trabalho. No dia 17 de janeiro de 1999 o Fantástico apresenta o vídeo:
 

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